A LDB no seu artigo 23 direciona a escolarização formal em ciclos:
Art. 23. A educação básica
poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais,
ciclos,
alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados,
com base na idade,
na
competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
organização, sempre que o
interesse do processo de
aprendizagem assim o recomendar.
O autor expõe as experiências
da prefeitura de Belo Horizonte e da Secretaria de Educação de São
Paulo que em 94 iniciou o processo de progressão continuada: Tais
experiências colocam os limites, as possibilidades e desacertos
destas novas propostas bem como a política pública que norteia a
implantação da nova organização escolar; a prática de avaliação
adotada dentro da nova proposta gerou debates sobre a avaliação.
Segundo o autor a diferenças
entre estas duas experiências; ele diferencia a partir dos exemplos
de BH e São Paulo duas formulações que são chamadas de ciclos
mas, que no seu entender não deveriam sê-lo: trata-se da
diferença entre a estratégia de organizar a escola por círculos de
formação que se baseiem em experiências socialmente significativas
para a idade do aluno e de agrupar series com o propósito de
garantir a progressão continuada do aluno; a primeira exige uma
proposta global de redefinição de tempos e espaços da escola ,
enquanto a segunda é instrumental – destina-se a viabilizar o
fluxo e alunos e tentar melhorar suas aprendizagem com medidas de
apoio ( reforço, recuperação).
O autor apresenta no primeiro
capitulo a discussão sobre a lógica da escola mostrando que a
progressão continuada não investe em grandes avanços na
significação educacional, mas continua a exclusão e a submissão;
mostra a lógica da avaliação formal que pode levar o aluno a
reprovação.
Em seguida mostrar a importância
da redefinição da escola em ciclos
A lógica da escola
A escola atual usa várias
terminologias para definir o processo educativo: ciclos, promoção
automática, progressão continuada, etc.
Para o autor o espaço mais
importante da escola é a sala de aula e o tempo é da seriação das
atividades dos anos escolares; segundo os liberais, a escola tem que
ensinar tudo a todos igualmente (equidade).
Segundo a visão liberal a
escola tem a sua eficácia na equidade., não levando em conta o
nível socioeconômico todos devem aprender em um nível elevado. Já
os socialistas, embora concordam com a aprendizagem aplicada em um
nível elevado de domínio, tem um olhar critico e acreditam que a
escola deve lutar pela eliminação dos desníveis sociais e
culturais.
De acordo com autor a escola
brasileira está longe de ensinar tudo a todos porque a hierarquia
econômica que existe fora dela, impede isso.; precisa-se saber o que
é desejo e o que a realidade apresenta.
A unificação do tempo de
aprendizagem diferencia o desempenho dos alunos, pois os alunos têm
ritmos diferentes de aprendizagem; quando se quer unificar
aprendizagens é necessário alterar o tempo desta, pois é preciso o
respeito pelo tempo que cada aluno leva para aprender; neste caso, o
acompanhamento pedagógico também precisa ser diferenciado.
A diferenciação entre
progressão continuada e promoção automática, enfatizada nos
textos oficiais é assim apresentada:
- Na progressão a criança
avança em seu percurso escolar em razão de ter se apropriado, pela
ação da escola, de novas formas de pensar, sentir e agir.
-Na promoção automática a
criança permanece na unidade escolar, independentemente de
progressos terem sidos alcançados.
A escola do Estado de São Paulo
baseou-se na progressão continuada, reunindo da 1ª à 4º série e
um único módulo e da 5ª à 8º em outro módulo.
Para o autor a escola eficaz
seria aquela que ensina o conteúdo, prepara o estudante – cidadão
para a autonomia e para a auto-organização para intervenção da
sociedade com vistas a torná-la mais justa no sentido da eliminação
da exploração do homem pelo homem. Tudo depende de que fins
atribuiremos à ação da escola
2- A lógica da avaliação
No processo avaliativo devem
estar intrínsecos três componentes:
- Institucional – é mais conhecido e propõe avaliar o domínio de habilidades e conteúdos apresentados em provas
- Comportamento – é por este componente que se avalia se o professor controla o aluno; na implantação dos ciclos se esquece o poder do professor de aprovar ou de reprovar, não se cria estruturas de poder na sala de aula; por isso muitas vezes o educador lança a mão de outras maneiras de controle.
- Valores e atitudes - em que o aluno é exposto a repressões verbais e físicas, estabelecendo a lógica da submissão.
Para o autor a avaliação
ocorre em dois planos:
- avaliação formal – provas que levam a notas
- avaliação informal- juízos de valores, que não aparecem, mas influenciam notas das avaliações finais; esse juízos se formam através da interação professor aluno
- Alógica dos ciclos
Enquanto nova proposta, os
ciclos procuram mudar a lógica e a avaliação da escola seriada;
sem excluir a avaliação informal ou formal, procura redefinir seus
propósitos, junto com o reforço e recuperação paralela.
Partindo do conceito de ciclos é
preciso que se incorpore na organização social novas exigências
para o sucesso e a superação da lógica da exclusão e submissão.
A experiência de BH e da
Prefeitura municipal de São Paulo orienta o professor fornecendo
–lhe parâmetros norteadores da prática pedagógica, sendo eles:
As diferentes faces do desenvolvimento humano do aluno, as
características de cada um e suas experiências sócios culturais.
Os ciclos de formação
constituem uma nova concepção de escola para o ensino fundamental,
na medida em que encara a aprendizagem como um direito da cidadania,
propõem o agrupamento dos estudantes onde crianças e adolescentes
são reunidos por suas faces de formação: Infância ( 6 a 8 anos);
pré-adolescência (9ª 11) e adolescência (12 a 14 ).
Os educadores formam coletivos
por ciclo, sendo que responsabilidade pela aprendizagem no ciclo é
sempre compartilhada por um grupo de docentes e não de forma
individual.
O autor cita experiência russa
em redefinir a escola, com temas como:
a- Formação na atualidade o
aluno deve interagir com a s contradições do seu tempo, aumentando
gradualmente forças que o levará à superação da sociedade
capitalista; os ciclos devem se estruturar para que as vivências
sociais estejam ligadas a realidade social do seu tempo
b-
auto-organização do estudante: Aprendizagem não pode ser baseada
na subordinação e isso só pode ser possível quando o trabalho
coletivo e a solidariedade são valorizados e colocados como
alavancas da aprendizagem.
É
preciso que os ciclos alterem, além dos tempos e espaços, o poder
que estão neles inseridos; os estudantes devem ter voz e voto.
Os
ciclos devem se abrir para a vida real e não se separa da realidade
social vigente; a avaliação deve ser vista como resultado das
relações entre professores e alunos, pais e dirigentes das escola
s.
O
currículo deve ser baseado em temas que são dinâmicos construídos
pelos professores e cujo método deve ser uma grande inter-relação
entre vida real da sociedade em que vive levando-se em consideração
a idade e os interesses dos alunos.
Par
o autor os ciclos não podem constituir-se em mera solução
pedagógica visando a seriação – são instrumentos de
desenvolvimentos de soluções sociais de antagonismo com as relações
sociais vigentes. Portanto, devem ser vistos como instrumentos de
resistência professores, pais e estudantes; devem compreender
adequadamente a função dos ciclos e deixar de velos de ângulo
exclusivamente metodológico – pedagógico. Devem vê-los como
instâncias políticas de resistência à escola convencional e que
junto aos movimentos sociais avançados irá ajudar a confirmar uma
nova sociedade, na qual homens não sejam exploradores de homens
A
LÓGICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
Pais e professores precisam atuar juntos, a fim de garantir o sucesso dos ciclos.
As políticas públicas que querem os ciclos ou a progressão continuada são importantes para a implantação dos novos processos e não podem ficar de fora. Existem políticas que querem o envolvimento dos professores e pais no processo, outros já atuam mais verticalmente.
PROGRESSÃO
CONTINUADA
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CICLOS
|
Projeto
histórico conservador de otimização da escola atual,
imediatista e que visa ao alinhamento da escola às necessidades
da reestruturação produtiva
|
Projeto
histórico transformador das bases de organização da escola e da
sociedade de médio e longo prazos, que atua como resistência e
fator de conscientização, articulação aos movimentos sociais
|
Fragmentação
curricular e metodológica que no máximo prevê a articulação
artificial de disciplinas e série (temas transversais, por
exemplo)
|
Novidade
curricular e metodológica de estudos em torno p de aspectos da
vida, respeitando as experiências significativas para a idade
(ensino por complexos, por exemplo)
|
Conteúdo
preferencialmente cognitivo e verbal
|
Desenvolvimento
multilateral, baseado nas experiências de vida e na pratica
social
|
Aponta
para a alienação, individualismo do aluno, aprofundando
relações de poder verticalizadas na escola
|
Favorece
a auto-organização do aluno, o trabalho coletivo e a cooperação
no processo, criando mecanismos de horizontalização do poder na
escola
|
Treinamento
do professor; preparação do pedagogo como especialista distinto
do professor (e vice-versa), com o fortalecimento da separação
entre o pensar e o fazer no processo educativo
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Formação
do professor em educador
|
Uso
de tecnologias para substituir o professor e/ou acelerar os tempos
de estudo
|
Subordinação
das tecnologias a professor, com ao finalidade de aumentar o tempo
destinado pela escola à formação crítica do aluno
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Sistema
excludente e/ou hierarquizador (auto exclusão pela inclusão
física da escola)
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Educação
como direito de todos e obrigação do estado
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Desresponsabilização
da escola pelo ensino. Terceirização/privatização
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Educação
em tempo integral
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Retirada
da aprovação do âmbito profissional do professor, mantendo
inalterada a avaliação informal com característica
classificatória
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Ênfase
na avaliação informal com finalidade formativa e ênfase no
coletivo como condutor no processo educativo
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“Avaliação
formal” externa do aluno e do professor (de difícil utilização
local) como controle
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A
avaliação compreensiva, coletiva e com utilização local
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Avaliação
referenciada em conteúdos instrutivos de disciplinas padronizados
em habilidades e competências
|
Avaliação
referenciada na formação e no próprio aluno, ante os objetivos
da educação e a vida (formação mais instrução)
|
As políticas públicas que se formam verticalizadas oferecem informações que dificultam o uso local, pois usam padrões genéricos de qualidade que serão medidos por meios classificatórios centrais, não considerando as relações que existem entre os resultados que foram atingidos com as condições oferecidas. É mito mais eficiente quando a escola tem um resultado real de sua posição, lutando dentro dela para chegar a um patamar superior, através da análise local dos resultados e condições que lhe foram oferecidas.
A nova organização denominada “ciclos” tem sido criticadas por ser avaliada como incapacitada de ensinar as disciplinas mais tradicionais. Tem-se dado a responsabilidade do processo, de manter crianças analfabetas na escola; realmente os ciclos mantêm o aluno com dificuldades na sala de aula; ele não é excluída dela, o educando fica na escola denunciando a qualidade do sistema e tendo a oportunidade de ser recuperado em séries posteriores.
A repetência e a evasão sob a visão neoliberal geram gastos ao estado; conclui-se que não é apenas uma questão da qualidade do ensino, mas o lado econômico, custo beneficio., que está em questão; o lado humano, formativo fica em segundo plano.
muito bom material, parabéns
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