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19 de jan. de 2013

WEISZ, Telma. O Diálogo entre o Ensino e a Aprendizagem


WEISZ, Telma. O Diálogo entre o Ensino e a Aprendizagem. São Paulo: Ática, 1999. 




O Diálogo entre o Ensino e a Aprendizagem. 


A autora faz uma série de reflexões sobre o processo de aprendizagem das  crianças, discorrendo sobre seu trabalho como alfabetizadora na escola pública para extrair exemplos e apresentar soluções. Na sua visão é possível criar um novo tipo de educador capaz de mudar o rumo de suas ações, interpretar as respostas dadas pelos alunos e se corrigir.

Um novo olhar sobre aprendizagem

O aluno é protagonista e agente ativo de seu processo de construção de conhecimentos. Atualmente, tal afirmação parece conhecida por todos e de unânime consideração por parte dos envolvidos em educação. ­Mas, qual é o papel do professor a partir dessa afirmação?
Considerar o aluno como intelectualmente ativo significa supor um professor passivo?

Significa designar ao professor o papel de mero espectador da construção de conhecimentos que o aluno percorre paulatinamente?

Numa concepção construtivista de educação, o professor não é, nem tampouco pode ser, mero espectador da construção de conhecimentos de seus alunos. Cabe a ele o papel de organizar as situações de aprendizagens, as intervenções pedagógicas que auxiliem os alunos em suas próprias construções, que considere seus conhecimentos e os mecanismos envolvidos nessa construção, além das questões relacionadas à didática do objeto a ser ensinado e aprendido.

A atuação do professor torna-se necessária para que os alunos avancem, aprendam e desenvolva suas competências, em situações didáticas planejadas, com objetivos previamente definidos, em tarefas que propõem desafios, com organização das formas de trabalho, previsão do tempo a ser utilizado e intervenções pedagógicas consistentes.
Mas, como isso se realiza na prática pedagógica? Como realmente realizar intervenções pedagógicas adequadas para que os alunos avancem em seus conhecimentos? O que se deve levar em conta para que a aprendizagem realmente ocorra?

Estas são questões que rodam o cotidiano dos educadores compromissados com sua prática, que esperam que seus alunos estejam envolvidos em uma realidade de sucesso escolar e não do fracasso, como tem sido.

Não existem fórmulas mágicas, nem receitas a serem seguidas para que os professores possam garantir que seus alunos aprendam. Mas, existem alguns pressupostos importantes, que necessitam ser considerados no processo de ensino e aprendizagem e que podem auxiliar na reflexão sobre como proceder para que a aprendizagem ocorra.

Em um contexto que considera o aluno como construtor de conhecimentos, o professor deixa de ser mero transmissor de conhecimentos definidos por uma lógica externa ao aluno, para considerar seus conhecimentos prévios, as suas possibilidades de aprendizagem e as características do objeto a ser ensinado. "O professor como mediador é alguém que, em cada momento, em cada circunstância, toma decisões pedagógicas conscientes: nunca está limitado a corrigir ou deixar errada, pois além de informar e respeitar o erro quando construtivo, ele pode problematizar, questionar, ajudar a pensar".

É fundamental que os professores consigam conhecer o que seus alunos sabem sobre o objeto de conhecimento a ser ensinado e aprendido, pois é a partir da possibilidade de relacionar o novo conhecimento com o conhecimento que possui que a aprendizagem ocorre. Assim, quando o professor toma conhecimento sobre os conhecimentos prévios de seus alunos pode planejar situações didáticas que tentem garantir a aprendizagem, ou seja, que permitam que o aluno consiga estabelecer relações substantivas e não-arbitrárias entre o que aprendeu e o que já conhecia.

As situações didáticas planejadas não podem considerar que o simples contato do aluno com o objeto de conhecimento promova a aprendizagem, ou que a simples imersão do aluno em ambientes informadores garanta o aprendizado. Caso isso ocorresse, não teríamos membros não alfabetizados em comunidades letradas. A intervenção pedagógica deliberada é essencial para que a aprendizagem ocorra, o professor deve planejar situações desafiadoras, ou seja, boas situações de aprendizagem.

Segundo Weisz, as atividades planejadas pelos professores, para terem valor pedagógico e serem boas situações de aprendizagem, devem considerar alguns princípios:

Os alunos precisam pôr em jogo tudo o que sabem e pensam sobre o conteúdo que se quer ensinar:
Em uma atividade em que os alunos colocam seus conhecimentos de maneira que seja desafiante, a resposta não podem ser de memórias, nem óbvias ou imediatas, devem mobilizar os conhecimentos dos alunos para a construção da solução.

Os alunos têm problemas a resolver e decisões a tomar em função do que se propõem a produzir:
A aprendizagem por resolução de problemas não se restringe aos problemas matemáticos, mas se relaciona à idéia de que o conhecimento avança à medida que o aluno tem bons problemas sobre os quais pensar.

Esse modelo de ensino pressupõe uma intervenção de natureza própria. Esse modelo refere-se à utilização, como núcleo das situações de aprendizagem, de situações-problema.

Aprender a aprender é algo possível apenas a quem já aprendeu muita coisa.

Aqui ressurge o modelo de aprendizagem proposto pela escola nova. Aprender a aprender significa saber buscar informações por meio do computador, ter capacidade para estabelecer relações inteligentes entre os dados, as informações e os conhecimentos já construídos.

O que sabe uma criança que parece não saber nada

O professor deve se preocupar com o que o aluno sabe sobre aquilo que ele ensinou mas também com o ponto de vista do aprendiz, porque é esse o conhecimento necessário para fazer o aluno avançar do que ele já sabe para o que não sabe.

Todas as crianças sabem muitas coisas, só que essas sabem coisas diferentes dos outros.

Tudo depende da valorização que certas aprendizagens assume nas comunidades de origem de cada criança. Depende da cultura da família e do seu ambiente

Professores e alunos são protagonistas do processo de ensino e de aprendizagem. Cada um desempenha um papel e possuem objetivos diferentes. Os alunos têm o objetivo de aprender e os professores, o objetivo de ensinar.

USOS DA AVALIAÇÃO

O sistema de avaliação impede o afastamento definitivo da escola e evita a diminuição da auto-estima, além de proporcionar um estímulo maior ao aluno que passa a estudar na mesma série que colegas de idade semelhante. "Os índices de reprovação ao final da primeira série sempre giraram em tomo de 50%. Na aprovação por ciclos, se conseguiu resultados melhores. O público leigo precisa saber que o que existia antes é tão ruim ou pior".

A coisa começa a ir por água abaixo, porém, quando a "aceleração" - ou recuperação - não corresponde às expectativas. "O problema é que as salas de aula continuam divididas entre os alunos "que vão" e "os que não vão", com uma pequena diferença: todos passam de ano, mas só alguns vão aprender, admite Telma. O drama de crianças que não sabem ler e escrever repete-se hoje se em qualquer escola localizada em regiões pobres, garantem os próprios professores. Eles reclamam pelo fato de não poder "reprovar ninguém" e dizem não tornar públicos os casos de analfabetismo porque as secretarias de educação costumam abrir sindicância "para apurar os fatos" e somente os professores acabam penalizados, enquanto o governo nunca cumpre a sua parte.

Na rede normal de ensino, não se sabe se, hoje, o professor está preparado para conseguir bons resultados de seus alunos. "Se ele estiver, ele consegue. A gente sabe que isso é possível, mas não fácil. Exige um preparo profissional, que infelizmente ainda não está disponível para os professores"

O desenvolvimento profissional permanente

Quando se fala da importância de o professor compreender o que seus alunos sabem ou não sabem para poder atuar, a questão é mais complexa do que parece.

Pensa-se sempre que é preciso ter uma boa noção daquilo que os alunos sabem do ponto de vista do conteúdo a ser aprendido, vista da perspectiva do adulto, ou seja, de como os adultos vêem a matéria que está sendo ensinada.

Pensar e propor a formação do professor como pesquisador pode causar certo estranhamento. Este estranhamento é fruto da divergência criada entre teoria e prática, entre pensar e fazer, que leva à falsa impressão de que a docência se caracteriza pela aplicação de metodologias formuladas em alguma instância "superior" à sala de aula, fazendo da sala de aula o lócus da ação, como se o agir desobrigasse o pensar. Como afirma Weisz. Esta visão permanece dominante na formação de professores.

A formação que se organiza através de uma inicial construção de conceitos sobre o ensino e sobre a aprendizagem, conduz a futura ação docente, pela observação de práticas diversas e pela atuação dos alunos, transformando-os em construtores do próprio saber.

Como essa possibilidade hoje em dia está fora não só de nosso alcance, é hora de começar a pensar, com maior profundidade, como agir para democratizar, de fato, o acesso à informação e às possibilidades de construção do conhecimento. Na verdade, o conhecimento se constrói freqüentemente por caminhos diferentes daqueles que o ensino supõe.

Por isso, é fundamental que o professor se instrumentalize para observar, questionar e redimensionar seu cotidiano. Tal movimento só se torna concreto através do permanente diálogo: prática-teoria-prática.

O professor enquanto pesquisador se insere no processo de redimensionamento da relação pedagógica. A tradicional dicotomia entre o fazer e o pensar é substituída pela percepção da complexidade do processo pedagógico. O professor assume como função, pensar e fazer coletivamente o cotidiano escolar.

No movimento de refletir sobre a dinâmica pedagógica, é importante ter como referência a prática cotidiana e assim apropriar de conhecimentos sobre o processo ensino-aprendizagem.

Dado o modelo autoritário de transmissão de conhecimentos que tem sido dominante nas escolas ao redor do mundo, os professores-pesquisadores irão ensinar de uma maneira mais democrática, centrada no aprendiz; se eles tomarem como experiência uma reorientação conceitual fundamental sobre seus papéis e sobre a natureza do ensino e da aprendizagem.

Portanto, isto não é tarefa fácil.

Se o professor procura inovar sua prática, adotando um modelo de ensino que pressupõe a construção de conhecimento sem compreender suficientemente as questões que lhe dão sustentação, corre o risco grave, no meu modo de ver, de ficar se deslocando de um modelo que lhe é familiar para o outro, meio desconhecido, sem muito domínio de sua própria prática, "mesclando", como se costuma dizer.

Quando analisarmos a prática pedagógica de qualquer professor vemos que, por trás de suas ações, há sempre um conjunto de idéias que as orienta. Mesmo quando ele não tem consciência dessas idéias, dessas concepções, dessas teorias. Eles estão presentes.

Os professores colocam muito bem a prisão do livro didático e dos recursos escassos que empobrecem o processo ensino aprendizagem.

Neste contexto, é que se depara com a acomodação de profissionais da educação, que tem como única preocupação o ensino, isto é, o simples repasse e reprodução do conhecimento. É necessário que o professor seja um pesquisador, figura importante na produção do saber, deixando de ser autoridade que detém o conhecimento, para ser aquele que compartilha e vivência, auxiliando o aluno na descoberta, desafios e busca de soluções.

Os professores não podem restringir sua atenção só à sala de aula,
deixando que o contexto mais amplo e os propósitos da educação
escolar sejam determinados pelos outros. Eles devem assumir uma
responsabilidade ativa pelos objetivos com que estão comprometidos
e pelo contexto social no qual estes objetivos podem prosperar. O
professor precisa dar significadas as ações cotidianas e respeitar os
interesses dos alunos. Nós, educadores e educandos temos o direito
de aprender. Não existe um conhecimento único, cristalizado e
acabado. Segundo Paulo Freire, devemos estar abertos às
descobertas, envolvidos e comprometidos com a nossa prática.

Conclusão

Em O Diálogo entre o Ensino e a Aprendizagem, Teima Weisz diz que muitos alunos não demonstram estar à vontade na escola, sendo por vezes indicados como portadores de dificuldades de aprendizagem. Mas muitos problemas apontados por professores como sendo de "aprendizagem" são, na verdade, "problemas de ensinagem" ou falta de conhecimento científico que gera uma postura "adulto cêntrico", em que se concebe a aprendizagem a partir da própria concepção do adulto que já domina o conteúdo. Com isso não se enfoca apenas o trabalho do professor, pois sabemos que a família tem um papel importante neste processo, como instrumento de ajuda ou como empecilho para o desenvolvimento educacional.

20 comentários:

  1. Muito bom seu texto! Ajudou-me a compreender um pouco mais as ideias da autora. Valeu!

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  2. amei seu texto.mim ajudou muito. obrigada.

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  3. amei seu texto.mim ajudou muito. obrigada.

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  4. Pois eu achei um pouco meio confuso gostaria que estivesse mais clareza

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  5. Parabéns! Texto excelente.

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  6. Parabéns!Texto excelente!Ajudou e muito nos meus estudos.

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  7. Texto bem esclarecedor...
    Parabéns!

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  8. Amei seu texto me ajudou muito obrigada

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  9. Ideias coesas e concisas, comentários bastante pontuais. Quem vive o cotidiano de sala de aula entende, perfeitamente, o que Weisz quer nos dizer em seu discurso. Muito obrigada pela dedicação em compartilhar conosco esse material reflexivo para a práxis enquanto professores alfabetizadores.

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  10. Weisz sempre nos remete a uma reflexão importante principalmente nos duas de hoje onde facilmente podemos perder o foco

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  11. Muito obrigada, seu resumo ajudou muito!!

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  12. Muito bom seu resumo, obrigado.

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  13. Bastante didático, obrigada.

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  14. Ótimo conteúdo rico e produtivo.

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