Uma turma é sempre
diferente da outra. Você sabe disso. E sabe também que, ao iniciar
o trabalho com um novo grupo, é fundamental conhecê-lo bem. Só
assim podem-se definir com clareza as melhores estratégias e os
métodos e materiais a serem usados. É disso que trata o plano de
trabalho. Baseado na proposta pedagógica da escola, ele deve também
ser norteado pelo planejamento específico de cada série ou ciclo
que varia de uma escola para outra. "O plano de trabalho trata
das especificidades e demandas de cada turma", explica Maria
Luisa Merino Xavier, professora da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É importante, portanto,
conversar com os professores da série anterior; descobrir se há
alunos na turma com necessidades especiais; se existem, por exemplo,
crianças de diversas culturas, etnias ou religiões; e pesquisar o
histórico escolar de cada um. Entrevistas com os pais ou
responsáveis também são úteis para saber com quem a criança
mora, o que faz nas horas de lazer, se tem algum problema de saúde,
de que brinquedos gosta e em que outras escolas estudou e como foram
essas experiências. "É bom descobrir o que os pais pensam, o
que esperam da escola e o que desejam para seus filhos", afirma
Maria Luisa. Em sala, é hora de observar quem desenha bem, tem
facilidade ou não para leitura, gosta de falar ou é mais tímido.
Com tantas informações em mãos, você poderá elaborar estratégias
adequadas para todo o grupo considerando as características de cada
um. "O plano de trabalho não pode estar pronto nos primeiros
dias de aula porque exige contato prévio com alunos e pais",
afirma a professora. Além disso, é preciso levar em conta o
seguinte: mesmo que você planeje suas aulas de acordo com os
conteúdos a ser abordados, sempre haverá, ao longo do ano, a
necessidade de mudar os rumos. Um dos motivos é atender às
necessidades momentâneas dos alunos. De que adianta, por exemplo,
seguir o roteiro sem abordar temas que todos vêem na TV, como as
catástrofes naturais ocorridas ultimamente? "As aulas consistem
em uma seleção pertinente para o momento, pois os conteúdos não
se esgotam", diz Maria Luisa.
2.Avaliação:
acompanhar o aluno para traçar o melhor caminho
A avaliação sempre
deve estar a serviço do aluno. Isso significa que ela não tem como
objetivo determinar as notas a ser enviadas à secretaria, mas
acompanhar o caminho que o aluno faz, descobrir suas dificuldades e
necessidades e alterar os rumos, se preciso. Ela é constante e pode
ser feita durante trabalhos em grupo, jogos e brincadeiras. Só que o
olhar do professor, nesses momentos coletivos, deve ser sempre para
cada estudante. "Assim se observam os interesses e os avanços
de todos na turma", revela Jussara Hoffmann, consultora em
educação, de Porto Alegre. Ao pensar em avaliação, você pode
lançar mão de atividades interativas em que existam o diálogo, a
troca entre os alunos, a participação e a cooperação. Também é
importante ter conversas individuais com os alunos, olhar o caderno e
as produções, perguntar o que aprenderam e do que gostaram. O
questionamento constante dá aos estudantes a oportunidade de
aprofundar as suas respostas. Para que você aproveite tudo isso, o
registro diário é fundamental. "A observação só se torna um
instrumento válido quando é registrada. As anotações mostram em
que as crianças se desenvolveram e em que elas ainda precisam
avançar", afirma Jussara. Você pode ainda avaliar a produção
de texto individual, as manifestações dos alunos sobre diversos
assuntos ou sobre um mesmo tema, em vários momentos e as atividades
menores, individuais e freqüentes, corrigidas imediatamente. É
preciso garantir que o aluno possa expressar seu conhecimento de
muitas maneiras (em músicas, textos, pinturas, fotos). Tudo isso
contribui para a aprendizagem. O processo é semelhante a um percurso
e seu papel não é esperar os alunos no final. Você acompanha a
turma, ajudando a ultrapassar os obstáculos do caminho.
3.
Contextualização:
ela vai muito além da relação com o cotidiano
Existe uma certa
confusão sobre o significado do termo contextualizar. A primeira
definição é a de que se trata de trazer o assunto para o cotidiano
dos alunos. É também, mas não só isso. Muitos conceitos e
conteúdos são contextualizados na própria disciplina. "Isso
significa colocar o objeto de estudo dentro de um universo em que ele
faça sentido", afirma Ruy Berger, consultor em educação, de
Brasília. Imagine que você está dando uma aula sobre divisão
celular. Os estudantes precisam saber o que é DNA para poder
entender o processo. Portanto, o DNA passa a ser um objeto de estudo
que faz sentido nesse conteúdo, que é a divisão das células. Esse
é um exemplo de contextualização que não está necessariamente
ligado à vida das crianças (o que não impede que o professor diga
que o DNA faz com que elas se pareçam com os seus pais, por
exemplo). Entendido isso, evitam-se situações forçadas, em que o
professor se sente na obrigação de relacionar todo e qualquer
conteúdo à vida dos alunos. Algumas vezes, aquilo que ele não
consegue contextualizar acaba até sendo excluído do currículo o
que prejudica, e muito, a aprendizagem da turma.
4.
Objetivo:
só depois que ele é definido, vem o conteúdo e a metodologia
Os objetivos que o
professor deseja alcançar devem sempre preceder sua ação. O ideal
é estabelecer primeiro um objetivo e, depois, um caminho para
alcançá-lo o que inclui definir o conteúdo e a metodologia. "É
preciso ficar atento para ver se a escola não está fazendo o
contrário: definindo o caminho, que é passar um conteúdo
preestabelecido, para depois pensar nos objetivos", alerta
Danilo Gandin, especialista em planejamento da educação, de Porto
Alegre. Segundo ele, muitas vezes os professores ficam presos à
obrigação de trabalhar o currículo preestabelecido e, ao mesmo
tempo, à necessidade de fixar objetivos, mesmo que eles não façam
sentido. "Aparecem situações estranhas: enquanto o objetivo é
desenvolver a consciência crítica, o conteúdo a ser passado é a
crase", afirma. Obviamente o que domina a cena é a crase, que o
professor pensa que tem de ensinar. O objetivo aparece apenas porque
alguém disse que ele deveria estar lá. Para Gandin, é preciso
pensar no que vai ser feito e para quê. Dois exemplos de objetivos
que norteiam um trabalho: 1) realizar um estudo sobre a escravidão
para aumentar a solidariedade e compreender mais profundamente o
significado da liberdade; e 2) estudar a variação dos preços em
dois supermercados para iniciar a compreensão do processo econômico
no país. Esses objetivos, é bom lembrar, devem sempre estar
alinhados com a proposta pedagógica da escola. Os conteúdos e a
metodologia, portanto, são o caminho a ser trilhado com base no que
se estabeleceu como meta.
5.
Conhecimento
prévio e interesse dos alunos: quem descobre é você
Os conteúdos abordados
em sala de aula devem, basicamente, contribuir para a formação de
cidadãos conscientes, informados e capazes de melhorar a sociedade.
Por isso, é muito comum os professores tentarem montar suas aulas
tendo como centro do trabalho o interesse dos alunos. Dessa maneira,
eles teriam mais elementos para refletir sobre o meio em que vivem e
sobre o que os cerca. Essa prática, porém, nem sempre garante bons
resultados. "Ocorre até o contrário. Ao dar importância
somente ao que os estudantes já conhecem, muitas vezes os
professores acabam caindo na superficialidade, presos a interesses
imediatos", alerta Danilo Gandin. Segundo ele, como
conseqüência, surge um currículo ditado pelas circunstâncias, que
destaca acontecimentos pontuais e não um roteiro de trabalho
construído com base na relação entre a proposta pedagógica e a
realidade. "Essa questão só se resolve quando a equipe de cada
escola define os grandes horizontes políticos e pedagógicos de seu
trabalho e, confrontando esses grandes ideais com a realidade e com a
prática, descobre as necessidades de seus alunos", conclui.
6.
Trabalho
Interdisciplinar: as matérias se unem e os alunos aprendem
A interdisciplinaridade
ocorre quando, ao tratar de um assunto dentro de uma disciplina, você
lança mão dos conhecimentos de outra. Ao estudar a velocidade e as
condições de multiplicação de um vírus, por exemplo, é possível
falar de uma epidemia ocorrida no passado devido às precárias
condições de saúde e higiene e à pobreza do local. Daí, é
possível até explorar, em outros momentos, os aspectos políticos e
econômicos que geraram tamanha pobreza. A interdisciplinaridade é,
portanto, a articulação que existe entre as disciplinas para que o
conhecimento do aluno seja global, e não fragmentado. É muito comum
a idéia de que, ao utilizar um tema gerador, se garante a
interdisciplinaridade. "Ela não se resume em escolher um tema e
abordá-lo segundo a visão de duas ou mais disciplinas", afirma
Ruy Berger. Ao estudar a questão dos índios, por exemplo, o
professor de História fala sobre a colonização do Brasil, o de
Língua Portuguesa trabalha as lendas indígenas e o de Matemática
acaba propondo um problema sobre o índio: isso não garante a
relação entre as disciplinas. O tema gerador pode ser um ponto de
partida, mas não o centro do estudo e nem se alongar muito, para os
alunos não se cansarem. Ao planejar, portanto, é importante
levantar quais são as possibilidades de trabalhar de forma
interdisciplinar ao longo do ano. Essas oportunidades podem ser
criadas com base nas pesquisas dos alunos e do próprio professor ou
em parceria com os colegas de outras disciplinas.
7.
Seqüência
didática: uma série de aulas que desafia e ensina os alunos
A seqüência didática
é um conjunto de aulas planejadas para ensinar um determinado
conteúdo sem ter um produto final. Sua duração varia de dias a
semanas e você pode elaborar várias sequências ao longo do ano,
de acordo com o planejado ou com a necessidade dos alunos detectada
pelo caminho. É possível, inclusive, aplicar essa modalidade ao
mesmo tempo em disciplinas diferentes. "O princípio da
seqüência didática é dar ao aluno desafios cada vez maiores para
que ele se desenvolva", afirma Regina Scarpa, coordenadora
pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação
Comunitária (Cedac) e do Instituto Avisa Lá, em São Paulo. Por
exemplo: você quer que seus alunos aprendam o uso do "r" e
do "rr". Primeiro observa o que eles já sabem a respeito e
depois elabora uma série de aulas com várias atividades, jogos,
questionamentos e muita reflexão, aumentando gradativamente a
complexidade dos desafios propostos. Com esse tipo de abordagem, os
alunos vão, aos poucos, percebendo que não existem palavras que
começam com "rr" ou que não se usa "rr" após o
"s", por exemplo. A seqüência didática é indicada,
ainda, quando se quer trabalhar o universo de um determinado autor.
"Além de ler suas obras, as crianças verão nessas aulas o que
o autor escreve, que livros já publicou e qual o seu estilo",
diz Regina. Se a idéia é trabalhar as diferentes versões da
história do Pinóquio, outra seqüência pode ser estabelecida:
leitura feita pelo professor do original e de uma segunda versão,
leitura e reescrita em grupos de trechos de outras versões e a
exibição de um filme sobre o personagem. Trabalhando dessa forma,
os conteúdos se distribuem de maneira intencional e mais
consistente.
8.
Temas
transversais: o pano de fundo do trabalho da escola
Temas transversais não
são disciplinas, apenas permeiam todas elas. Se a escola decide
abordar ética de maneira transversal, não pode estipular uma aula
sobre o assunto uma vez por semana e esquecer dela no restante dos
dias. "Esses temas precisam estar presentes em todas as
disciplinas, o tempo todo, como pano de fundo do trabalho da escola",
orienta Josca Baroukh, selecionadora do Prêmio Victor Civita.
Segundo Josca, ao abordar os temas transversais, o professor leva os
alunos a refletir para que eles tenham condições de construir
conceitos, em vez de apenas coletar informações a respeito. "Caso
contrário, é possível que os estudantes organizem uma coleta
seletiva no bairro ou arrecadem alimentos para um asilo sem pensar no
porquê de fazer aquilo", afirma. Se a escola propõe à
garotada, por exemplo, mobilizar a população e a prefeitura da
cidade para fazer um poço artesiano em benefício de uma comunidade
que vive na seca, é preciso, antes da ação, uma reflexão
profunda. O que é a seca? Que problemas ela traz? Um poço é a
melhor solução para o momento? Há outras formas de contribuir? E,
principalmente, por que devemos contribuir? Para Josca, não é
apenas o conteúdo escolar que dá gancho a esse tipo de trabalho.
"Uma notícia de jornal e até um conflito em sala de aula podem
ser mote para reflexão. É um trabalho contínuo, que nem sempre
depende do planejamento das aulas."
9.
Tempo
didático: para não errar na dose, é preciso ter objetivos claros
Muitas vezes é difícil
definir quanto tempo será gasto para desenvolver um tema, uma
atividade ou um projeto. Para não errar na medida, é fundamental
ter em mente três pontos: o que você quer ensinar, como cada um de
seus alunos aprende e como você irá acompanhar e avaliar o trabalho
da garotada. "Se o tempo previsto der errado, é porque pelo
menos um desses três itens não foi observado", afirma Regina
Scarpa. Na prática, isso significa que você deve estabelecer,
primeiramente, os objetivos e os conteúdos (seja para uma aula ou
para um projeto mais longo). Depois, pensar nas atividades a ser
desenvolvidas, baseando-se na maneira como seus alunos aprendem.
Então, considerar que é preciso tempo para avaliar, constantemente,
a produção da garotada e, dessa forma, saber se será necessário
estender a abordagem de um ou outro conteúdo, sobre o qual as
crianças apresentaram dificuldades. "É possível prever o
tempo de um projeto, apesar dessas variações no meio do caminho",
diz Regina. Por isso, é importante planejar o encerramento com certa
antecedência em relação ao fim do bimestre ou do semestre. Se
algum aluno não aprender, haverá uma folga. "Não faz sentido
o professor fazer a revisão dos textos ou ilustrar um trabalho no
lugar dos alunos porque o tempo acabou e é hora de concluir o
projeto", diz Regina.
10.
Inclusão:
a escola leva o aluno com deficiência a avançar
Receber uma criança
com deficiência não deve ser motivo de angústia. Cada vez mais a
inclusão escolar tem sido discutida no meio educacional, e os
professores hoje conseguem encontrar, em parceria com os pais, a
coordenação da escola e os especialistas nas deficiências,
caminhos seguros para trabalhar. "A escola serve para ampliar os
conhecimentos dos estudantes. Por isso, o primeiro passo é procurar
saber o que o aluno com deficiência já sabe e quais são as
possibilidades que ele tem de aumentar esses conhecimentos",
ressalta Maria Teresa Eglér Mantoan, da Universidade Estadual de
Campinas. Procure descobrir como tem sido a experiência da criança,
pesquisando seu histórico escolar e trocando informações com os
pais e os professores das séries anteriores. Se ela estiver
recebendo atendimento educacional especializado no contra turno em
alguma instituição, é importante conversar com os especialistas ao
longo de todo o ano para acompanhar seu desenvolvimento. Isso pode
ajudar muito a planejar as aulas, definir estratégias e escolher os
melhores materiais o que é bom não só para o aluno com deficiência
mas para a turma toda. Se sua escola já oferece esse atendimento, a
parceria com o professor especialista se dará de maneira ainda mais
efetiva, pois o contato é diário. No caso de haver uma criança
cega, esse profissional pode, por exemplo, ajudar você a elaborar
materiais concretos para ensinar um conteúdo de Matemática (como
figuras geométricas feitas em relevo, com tinta plástica ou
sementes coladas no papel). "O professor deve receber essa
criança como ele recebe todas as outras. Ela é, acima de tudo, um
aprendiz", afirma Maria Teresa.
11.
Matemática:
interação entre os conteúdos é essencial
O melhor caminho para
garantir o aprendizado da turma é relacionar os conteúdos
matemáticos e mostrar como eles se complementam. Isso é o que dá
significado ao estudo. Geralmente, os tópicos aparecem de forma
fragmentada, como se não tivessem nenhuma ligação entre si. Na
prática, é como ensinar multiplicação com o objetivo de fazer o
aluno calcular mais rapidamente e de cabeça, sem fazer nenhuma
relação com situações em que a operação é necessária. "O
professor deve organizar os temas de forma que possam ser vistos como
uma rede de significados", aponta Maria Sueli Cardoso,
selecionadora do Prêmio Victor Civita. Por exemplo: em vez de pedir
à turma apenas para calcular quanto é 2 x 4, é possível pedir
para desenhar em um papel quadriculado duas colunas com quatro
linhas. Assim todos perceberão que 2 x 4 é igual a 8 quadradinhos.
Esse resultado significa também a área de um retângulo (com 2
unidades de altura e 4 de comprimento). Nesse tipo de atividade,
estão relacionados multiplicação, figura geométrica e perímetro.
"É sempre interessante que o aluno compreenda que um mesmo
assunto pode ser estudado sob vários aspectos", diz Sueli.
12.
Língua
Portuguesa (1ªa 4ª): mais importância para a oralidade
Atividades de leitura e
escrita aparecem muito nas primeiras séries do Ensino Fundamental.
Mas e a oralidade, onde fica? Para Eliane Mingues, selecionadora do
Prêmio Victor Civita, é importante criar situações em que as
crianças utilizem as três práticas. Elas podem elaborar uma
coletânea de contos ou poemas; um livro de receitas; ou o encarte de
um CD com as canções preferidas da turma. Para fazer a coletânea
de poemas, por exemplo, a garotada tem que ler, selecionar, recitar e
escrever as poesias. Essas situações ensinam a leitura e a escrita
e também a oralidade, o que será útil para a vida dentro e fora da
escola. "Alunos que não vivem situações de fala formal em
sala de aula podem demorar mais para construir esse conhecimento",
afirma. Surge, assim, a dificuldade em se expressar, elaborar
apresentações e criar argumentos sobre o que pensam. O mesmo vale
para a dificuldade em anotar, pesquisar e resumir. "Quando as
crianças já estão alfabetizadas, pode-se focar em atividades que
dão mais autonomia em relação à leitura e à escrita, como a
entrevista", sugere Eliane. A atividade proporciona uma situação
comunicativa em que os alunos precisam escrever um texto de gênero
específico para leitores reais e que será publicado no mural ou
boletim da escola.
13.
Língua
Portuguesa (5ªa 8ª): gramática como uma ferramenta
É importante não
separar o estudo das regras da língua da leitura e produção
escrita. "A reflexão sobre os mecanismos da língua produz um
aprendizado mais consistente quando é feita misturada ao ler e
escrever", afirma o selecionador do Prêmio Victor Civita
Ricardo Barreto. Para envolver a garotada no ensino da gramática, um
bom caminho é associá-la a situações concretas. Transformar um
texto formal em coloquial, comparando as palavras e as estruturas que
foram alteradas, é um bom exercício. Escrever uma reclamação a
uma autoridade e, em seguida, contar o fato a um amigo, também por
carta, é outra
opção. "A idéia
é levar o aluno a perceber as possibilidades da língua sem ter de
decorar regras", diz Barreto. Ele destaca mais uma estratégia:
fazer os estudantes pesquisarem as diferenças entre textos de
diversos gêneros, como o de divulgação científica, a crônica e a
notícia. Durante a leitura, eles acabarão comparando os elementos
gramaticais utilizados em cada um. "Por fim, o professor pode
solicitar ao aluno que escreva sobre o que aprendeu. Essa prática
também estimula a reflexão sobre a língua."
14.
Língua
Estrangeira: as palavras precisam de contexto
Ninguém esquece sua
língua materna quando aprende uma língua estrangeira. O que
acontece é bem o contrário: quanto mais o aluno utiliza o
conhecimento que adquiriu em sua vivência e sobre o próprio idioma,
melhor entende uma segunda língua. Por exemplo: certa vez uma
empresa lançou uma campanha publicitária com o slogan Put a tiger
in your tank. "Para entender a mensagem, não basta saber o
significado de cada palavra. É preciso conhecer uma série de
elementos prévios", afirma a selecionadora do Prêmio Victor
Civita Celina Bruniera. "Ajuda, por exemplo, conhecer as
características do texto publicitário e saber que o tigre
representa força e agilidade e que é o símbolo de uma
distribuidora de combustível." Outro exemplo: lendo a palavra
engaged isolada, o aluno terá mais dificuldade de entender seu
sentido do que se vê-la na fechadura da porta de um banheiro
público. "Se disserem a ele que, ao girar a fechadura, a
palavra desaparece e, em seu lugar, surge vacant, será mais fácil
concluir que vacant significa vago e engaged ocupado." Celina
ressalta, no entanto, que, ao tentar tornar o ensino interessante,
muitos professores se esquecem dos gêneros textuais e abusam de
atividades lúdicas sem contextualização. Disso surgem palavras
cruzadas e joguinhos que só ajudam a decorar palavras.
15.
História:
de olho no presente para transformar o futuro
Estudar história local
com a turma é uma prática muito comum e pode ser uma experiência
importante e enriquecedora desde que o resultado não se torne uma
mera coletânea de curiosidades, hábitos e causos sobre o lugar e
seus moradores. Por isso, ao pensar nos conteúdos que serão
abordados durante o ano, é preciso levar em conta as respostas para
algumas perguntas que você deve fazer a si mesmo: posso com isso
contribuir para transformar minha região? Em que esse assunto
ajudará meu aluno em sua vida diária e no seu processo de formação
como cidadão? Como fazer com que ele tenha uma aprendizagem
significativa? "Em cada contexto social, político e geográfico
as respostas são diferentes. Portanto, só o professor tem reais
condições de respondê-las e de formular as melhores propostas
didáticas", diz o selecionador do Prêmio Victor Civita Daniel
Helene. "O importante é levar os alunos a enxergar a realidade
com um olhar crítico." No norte do Maranhão, por exemplo,
algumas empresas usam mão-de-obra infantil. Por que não estudar a
história local para compreender essa problemática? Em alguns
municípios de Rondônia, na fronteira com a Bolívia, muitos
estudantes discriminam os colegas vindos do país vizinho. Estudar a
formação dessas cidades é um caminho para combater o preconceito.
Ações como essas, baseadas em problemas que exigem solução
imediata, tornam o ensino de História dinâmico.
16.
Geografia:
ela não está só nos mapas mas também no cotidiano
Para que essa
disciplina faça sentido desde a Educação Infantil, uma boa
seqüência de conteúdos é fundamental. Caso contrário, conceitos
como ordem, hierarquia e proporção — importantes para a área —
não serão assimilados pelas crianças. Segundo Sueli Furlan,
selecionadora do Prêmio Victor Civita, as primeiras noções de
Geografia são adquiridas ainda na pré-escola. Para que a criança
aprenda cartografia, por exemplo, deve-se partir do conhecimento
prévio que cada uma delas possui. "Para calcular uma distância,
os alunos podem usar objetos de diferentes tamanhos, passadas, o
palmo ou um barbante", exemplifica. Dessa forma, ao chegar à 1ª
série, eles já adquiriram conhecimento sobre espacialidade e
hierarquia. Daí em diante, brincadeiras e jogos ajudam. No futebol,
conhecer as posições dos jogadores faz a turma assimilar noções
de perto, longe, ao lado, fora, dentro e lateral direita e esquerda.
De 5ª a 8ª série, é hora de usar os mapas como fonte de
informação para o estudo do mundo em que vivemos. Os alunos devem
estudar como se produz a cartografia, quais são suas fontes de
informação e qual o papel das cores, dos números e dos símbolos
nos mapas.
17.
Educação
Infantil: o segredo é a autoconfiança do professor
Ouve-se muito que o
professor de creche e de pré-escola não pode ser autoritário e que
deve se basear no interesse da turma. Mas o verdadeiro responsável
pela definição dos temas e das atividades a ser desenvolvidas é
ele mesmo. Deixar a cargo dos alunos essa escolha não é sinônimo
de liberdade nem demonstra uma postura pedagógica avançada. "O
professor precisa conhecer o modo como as crianças aprendem e como
se desenvolvem e levar isso em conta na hora de planejar cada aula",
afirma a selecionadora do Prêmio Victor Civita Regina Gomes Sodré.
Segundo ela, deve-se compartilhar com as crianças algumas etapas do
trabalho — pois isso também ensina a estudar e a planejar —, mas
sem deixar que elas tomem todas as decisões. Na construção de uma
maquete, por exemplo, vale uma conversa com os alunos sobre o
material a ser utilizado e sobre o que será representado, além de
fazer com eles um cronograma, que será utilizado ao longo do
trabalho. Esta é a melhor maneira de envolver as crianças e
garantir o interesse pela aula: escolher temas adequados à faixa
etária, que sejam relevantes do ponto de vista cultural, estejam
relacionados ao local em que a escola está inserida e sejam
propostos de forma instigante.
18.
Educação
Física: o programa vai além do conteúdo esportivo
Segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), as aulas de Educação Física devem
trazer discussões sobre assuntos como ética, cidadania, respeito às
diferenças e cooperação. O cuidado constante com essas questões é
essencial e se aplica até mesmo durante um campeonato de futebol.
Sempre os escolhidos para formar os times são os mais hábeis e
competitivos. Ficam para trás aqueles que, por algum motivo, têm
dificuldade para jogar. "Cabe ao professor discutir o problema
claramente e perguntar por que foi escolhido este e não aquele
aluno", afirma Paulo Henrique Nilo Monteiro, selecionador do
Prêmio Victor Civita. "Essas respostas vão permitir a ele
trabalhar a questão das diferenças, que não se restringem às
habilidades físicas, mas que são também socioeconômicas e
culturais." Discussões desse tipo podem fazer parte da vivência
diária dos alunos. "Não adianta apenas falar sobre as
diferenças e continuar propondo somente atividades clássicas, como
os jogos esportivos", afirma Monteiro. Para ele, uma boa
alternativa é trabalhar com os chamados jogos cooperativos, em que
são valorizados elementos como aceitação, envolvimento,
colaboração e diversão. "Joga-se com o outro e não contra o
outro. Para alcançar os objetivos é preciso esforço e dedicação."
19.
Ciências:
sem a dúvida, a turma não avança no conhecimento
"A dúvida é, por
excelência, o motor da ciência", afirma Maria Terezinha
Figueiredo, selecionadora do Prêmio Victor Civita. "O
questionamento deve fazer parte da aula do início ao fim." Em
classe, enquanto os assuntos são trabalhados, você pode estimular
os alunos a fazer também suas perguntas. Ao estudar a fotossíntese
acompanhando a germinação de alguns feijões, por exemplo,
experimente questionar a turma: o que tem dentro da semente? Por que
comemos feijão? "Quando o professor estimula o aluno a elaborar
perguntas, está instigando sua capacidade de enxergar o feijão de
um jeito diferente do que é apresentado ali", afirma. A dúvida
leva a criança a uma ação investigativa sobre o problema,
aproximando-a do conhecimento. "Sem reflexão e investigação,
a ciência não progride. Como pesquisar se não há algo a
descobrir?", indaga Maria Terezinha. Ao se questionar, a criança
verá que há inúmeras coisas que a ciência ainda não desvendou.
"O professor precisa mostrar que muitos conceitos hoje aceitos
são passíveis de mudança, pois a ciência é dinâmica."
20.
Artes:
uma disciplina que também se ensina e se aprende
As aulas de Artes não
dependem do talento ou da sensibilidade dos alunos. A disciplina
funciona como qualquer outra: existe um conteúdo, que pode ser
ensinado — e aprendido por todos. Segundo a consultora Zá Marisa
Szpigel, de São Paulo, um bom caminho é mesclar a visão
tradicional do ensino da matéria (em que o estudante baseia seu
trabalho em modelos já prontos) com a menos convencional (em que o
professor valoriza a espontaneidade da criança para criar). Com base
nessa interação, o professor propõe modelos e também cria
situações para que o aluno utilize as próprias idéias para
transformar as referências que possui. Ele pode, por exemplo,
apresentar uma pintura famosa como referência. Ao pintar, a criança
não deve, no entanto, fazer uma cópia fiel ou dominar as mesmas
técnicas que o artista. O que vale é a criatividade. O aluno define
quais materiais usar, se prefere trabalhar sozinho ou em grupo e
quanto tempo necessita para as tarefas. Essas oficinas dão ao
professor a chance de apresentar os conteúdos e ao mesmo tempo
explorar as capacidades dos alunos sem cobrar deles uma produção
artística primorosa. Todos têm a mesma oportunidade de criar, a seu
modo, sem ser comparados. "Ao propor ao aluno desenhar uma
paisagem, não se deve dizer de que modo ele fará isso ou que tom de
verde usará na grama", recomenda Zá.
Bibliografia
A prática do planejamento participativo, Danilo Gandin, Ed. Vozes
Avaliação nas práticas de ensino e estágios, Zelir Salete Busato,
Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário, Delia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed,
O jogo do contrário em avaliação, Jussara Hoffmann, Ed. Mediação.
Planejamento em destaque: análises menos convencionais, Maria Luisa M. Xavier, Ed. Mediação
Ser professor é cuidar que o aluno aprenda, Pedro Demo, 88 págs., Ed. Mediação
excelente!
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