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Esta iniciativa consite em ações que possibilitem momentos de reflexão e construção pedagogica, abrangendo ainda propostas significativas para a prática cotidiana do educadores. De acordo com o contexto escolar e vivências as ideias e sugestões podem ser adequadas as necessidades reais nas expectativas de educadores e educandos

17 de set. de 2020

7 de jul. de 2015

Piaget, Vygotsky e Wallon – Tripé teórico da Educação

Jean PIAGET

Pesquisar como alguém incorpora um novo conhecimento, como o constrói foi o pontapé inicial de sua “teoria”. Postula que ao se deparar com algo novo, o indivíduo tenta remetê-lo a qualquer coisa com que já tenha tido contato, que já conheça. Imaginemos que nossa cabeça fosse um gavetão de arquivos, com várias pastas suspensas (que antigo, isto nem é mais usado!) onde categorizamos tudo aquilo que sabemos. Assim que temos contato com algo novo, é como se abríssemos este gavetão para procurarmos algo similar, parecido, nas pastas suspensas (categorias) que já possuímos, mas não encontramos nada similar. A esta primeira estranheza do novo, Piaget nomeou assimilação, isto é, reconhecer alguma coisa como diferente do que eu já conheço. A partir deste reconhecimento, do contato com a novidade, da experimentação, o indivíduo refina seus conhecimentos e incorpora uma nova informação, o que proporciona a criação de um novo conceito, nova categoria, o surgimento de uma nova pasta suspensa em nosso gavetão (ou a criação de uma subpasta). A esta nova partição criada, organizada, sistematizada Piaget chama de esquema.Incorporado novo esquema mental, assume-se a acomodação, que define um conhecimento aprendido, incorporado, introjetado.
Vejamos um exemplo:
Uma criança de dois anos e meio conhece diferentes cachorros: pretos, marrons, brancos, de pequeno, médio e grande portes, manchados, lisos, de pelo curto, de focinhos gelados, rabos grandes, etc. Já tem criado em seu gavetão o esquema mental “cachorro”. Numa determinada situação esta criança se depara com um cavalo. Abre seu gavetão mental e procura algo similar. O que tem de mais parecido é o “cachorro”. Neste momento chama o cavalo de “cachorro gigante, ou mamãe cachorro que comeu demais”, entre outras hipóteses. O que importa é que ela tentará “ligar” o cavalo aos animais que já conhece. Como seu repertório é pequeno, precisará lançá-lo ao conhecido: o cachorro. A intervenção de alguém mais experiente é essencial: é ele quem possibilitará novo olhar para este pseudo-cachorro, com perguntas que permitam desafios, problemas para a criança:
– Este animal é mesmo um cachorro? Perceba seu focinho. É igual ao do cachorro? E seu corpo, já tinha visto um cachorro deste tamanho? E as unhas? O rabo é do mesmo tamanho? Etc.
Enfim, questionamentos simples farão com que a criança perceba que este já não se trata de um cachorro, que ele não se enquadra neste esquema mental. Isto representa assimilação.
Depois de algumas experiências com cavalos, desenhos, leituras, visualizações, comparações a criança conseguiu criar nova categoria – cavalo. O reconhecimento do cavalo equivale ao conceito de acomodação. Agora a criança já sabe o que é cavalo e o que é cachorro.
Toda esta seqüência acontecida, do olhar algo novo a apreendê-lo, é o definido como processo de equilibração, para Piaget. Recapitulando:
1.Criança conhece cachorro – está na chamada zona de equilíbrio, de conforto.
2. É apresentada a um cavalo – tenta categorizá-lo como cachorro, mas não consegue, é diferente – zona de desequilíbrio, de desconforto.
3. De tantas experiências com um cavalo, aprende a categorizá-lo – zona de equilíbrio, de conforto novamente.
A função do professor nesta perspectiva é “desequilibrar os esquemas mentais do aluno”, oferecer desafio compatível àquilo que conhece. É necessário um mecanismo contínuo de sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos para perceber necessidades de intervenção.
Piaget organizou também os chamados estágios de desenvolvimento, que determinam o nível maturacional da criança, quais suas apropriações de acordo com seu tempo. Suas principais características:
1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos)
  • Período de percepção, sensação e movimento.
  • É regido pela inteligência prática.
2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos)
  • Função simbólica – linguagem – comunicação
  • Egocentrismo (reconhece, assume, percebe o seu ponto de vista)
  • Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação – finalismo
  • Jogo simbólico = faz de conta, imaginário
  • Animismo – características humanas a seres inanimados
  • Realismo – materializar suas fantasias
  • Artificialismo – explicar fenômenos da natureza através de atitudes humanas
3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)
  • Reorganiza, interioriza, antecipa ações
  • Diferencia real e fantasia
  • Estabelece relações e admite diferentes pontos de vista
  • Tem noções de tempo, velocidade, espaço, causalidade
4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)
  • Esquemas conceituais abstratos
  • Valores pessoais

Lev Semenovitch VYGOTSKY

Vygostsky tem como palavra-chave interação social, o que implica dizer que o desenvolvimento do indivíduo se dá através da relação com o outro, com o mundo.
O conceito de mediação simbólica trata do conceito de intermediação, da relação homem-mundo, que acontece através de duas formas:
a) Instrumentos: objetos, ferramentas criadas pela necessidade de intervenção do homem no mundo – ação. Se toda produção do homem é cultura, a encara como alargadora de possibilidades. Exemplo: o homem precisava percorrer grandes distâncias, inventou o avião, o navio, claro que o que não está em questão é o tempo que se levou para a constituição final destas invenções, mas sim, da necessidade atendida através da idealização.
b) Signos / símbolos: são representações. Exemplo: o símbolo de masculino e feminino. Sentido, significado objetivo. Esta é a primeira categoria. Na segunda, os símbolos demandam abstrações mais elaboradas, internalizadas, reflexivas. Exemplos: noção de tempo. E quando dizemos a palavra mesa. Uma pessoa que escuta já traz em sua memória um desenho qualquer de mesa, a idéia do que é uma mesa, para que ela serve.
A linguagem, contemplada como instrumento do pensamento, tem duas funções:
Comunicação: expressão, intercâmbio social.
Categorização: de classificação, conceituação do mundo: representa inteligência prática.
Zona de desenvolvimento proximal
Conceitos atrelados: conhecimento real e conhecimento potencial
Conhecimento real é aquele em que há o domínio, aquilo que se conhece, sabe, articula. É passado. Exemplo: sei fazer arroz.
Conhecimento potencial é aquele que se pode dominar com a ajuda de outro mais experiente, por exemplo: apesar de saber fazer arroz, só consigo fazer risoto com a ajuda de minha avó, pois ela organiza toda a seqüência da receita para que eu não me perca.
A distância entre o conhecimento real e o conhecimento potencial é chamada de zona de desenvolvimento proximal. É o “lugar imaginário” onde o professor deve atuar no aluno. Se tivermos 42 alunos numa sala de aula, teremos 42 z.d.ps diferentes.

Henri WALLON

Defendeu a idéia da compreensão da criança completa, concreta, contextualizada, vista de forma integral, isto é, não mais encarada como um adulto em miniatura, mas sim, como um ser numa etapa de especificidades. Segundo ele são quatro os campos funcionais que visualizam a criança de modo “integrado”:
1. As emoções: manifestação afetiva, relação = interação criança e meio onde está inserida.
2. O movimento: primeiro sinal de vida psíquica. Vislumbrada em duas dimensões:
a) expressiva: base das emoções, de expressão.
b) instrumental: ação direta sobre o meio físico, concreto. Voluntário.
3. A inteligência1º momento = sincretismo = misturar as coisas, confusão = não separa qualidade do objeto. Exemplo: criança de dois anos que tem um colega cujo nome da mãe é o mesmo da sua, não aceita a idéia (o nome Maria é da sua mãe, não da mãe do outro).
Com as experimentações da criança sobre o mundo, progressivas diferenciações ocorrem, o que proporciona o ampliar de seu repertório de categorizações. Isto não quer dizer que nunca mais, após a infância, estejamos sujeitos ao “sincretismo”. As grandes invenções, as diferentes idéias surgem de momentos de sincretismo, de mistura, de confusão, de possibilidades, de criatividade.
2º momento = pensamento categorial = conceitual (acontece na idade escolar) possibilidade de pensar o real por meio de categorias, diferenciações, classificações.
4. A contrução do “eu” como pessoa: Como constrói a consciência de si.  Inicialmente o indivíduo está na fusão emocional – No útero materno, necessidades alimentares ou posturais têm satisfação automática. Pós nascimento mamãe e bebê ainda são encarados como um todo, o que representa para WALLON alto grau de sociabilidade – ela e outro = um só, para depois o indivíduo perceber-se enquanto único, o que nomeiaprocesso de individuação.
É caracterizado de duas formas:
– imitação do outro = maneira de “incorporar o outro”, o outro como modelo, referência.
– negação do outro = para perceber o limite “eu-outro” manifesto meu ponto de vista através de condutas de oposição, o que representa a expulsão do outro em si mesmo.
Picos desta constituição acontecem com 3 e 13 anos, aproximadamente, apesar da considerar que esta diferenciação “eu-outro” nunca é completa, total, ocorre durante toda a vida.
Pode-se assumir, segundo WALLON que a relação destes quatro campos funcionais não é sempre de harmonia, mas sim, de conflito.

4 de jul. de 2015

12 LIVROS INFANTIS PARA TRABALHAR RELAÇÕES RACIAIS NA ESCOLA




Com o intuito de fortalecer o debate sobre alguns temas que constituem verdadeiros dilemas para professores, mães e pais diante das discriminações sofridas por crianças negras de diferentes idades em seu cotidiano escolar, elaboramos esta lista com 12 sugestões de livros infanto-juvenis que podem ser compartilhados tanto na educação infantil e no ensino fundamental, quanto em casa, praças, becos e vielas. São eles:


Todas as cores do negro


Texto e ilustrações de Arlene Holanda. Brasília/DF: Conhecimento, 2008.

Aborda em linguagem de prosa poética o universo da cultura e herança dos povos africanos no Brasil. Passeia pelo processo histórico da escravidão, com foco na resistência e se demora no período pós-abolição: as condições de abandono a que foram submetidos os negros, as estratégias de sobrevivência, o preconceito, a segregação social.
Público: infanto-juvenil (de 8 à 12 anos, ou alunos do 3º ao 6º ano)
Número de páginas: 31

  1. Menina bonita do laço de fita
  2. Texto de Ana Maria Machado e Ilustraçõeso de Claudius. 7. ed. São Paulo: Ática, 2005.
menina
Traz uma linda história de valorização da beleza negra, onde um coelho branquinho queria casar-se e ter uma filha “bem pretinha”. Durante a obra, o coelho tenta descobrir o segredo para conquistar o seu tão sonhado desejo. Leia o livro e acompanhe a busca do coelhinho!
Público: infantil
Número de páginas: 24
  1. A Cor da vida
  2. Texto de Semíramis Paterno. Belo Horizonte/MG: Editora Lê, 2008.
a cor da vida
É um livro ilustrativo que trabalha a diferença ao contar a história de duas crianças que se conhecem e ficam amigos quando passeiam com suas mães. Elas se olham e brincam, se distanciando do local onde estavam. Quando as mães percebem o desaparecimento dos filhos, ficam enraivecidas e saem correndo em busca dos dois. Mas, uma surpresa as aguarda. Por meio de um jogo poético com as cores, duas crianças mostram para suas mães que a luta pela igualdade não significa apagar as diferenças.
Público: infantil
Número de páginas: 8
  1. Obax
  2. Texto e ilustrações de André Neves. Rio de Janeiro/RJ: Brinque-Book, 2010.
obax
Quando o sol acorda nos céu das savanas, uma luz fina se espalha sobre a vegetação escura e rasteira. O dia aquece e é hora de descobrir muitas aventuras. OBAX percorre a savana africana com a sua imaginação. Ela conhece girafas e outros animais selvagens, mas o seu passatempo preferido é contar histórias! Algumas delas são tão incríveis que mais parecem um sonho. As ilustrações são excepcionais e o texto nos proporciona um passeio pela diversidade e pluralidade do continente africano
Público: infantil
Número de páginas: 33
  1. O livro das origens
  2. Texto de José Arrabal e ilustrações de Andréa Vilela. São Paulo: Paulinas, Coleção Mito & magia.
livro das origens
Neste livro o autor apresenta uma série de mitos de algumas regiões do Brasil, África e México sobre origens. Permite-nos ver como o amazonense e o paraense, como o africano da África do Sul e de Uganda e, por fim, como os Astecas veem a vida. São várias culturas pensando o mundo de forma muito diversa.
Público: infanto-juvenil (de 6 à 10 anos, ou alunos do Ensino Fund. I).
Número de páginas: 53

  1. Bruna e a galinha d’Angola
  2. Texto de Gercilga de Almeida e ilustração de Valéria Saraiva. Rio de Janeiro/RJ: Pallas, 2011.
bruna
A obra retrata o universo mítico africano representado pela Galinha d´ angola e sua relação com a criação do universo.
Público: infantil
Número de páginas: 24

  1. A História do Rei Galanga
  2. Texto de Geranilde Costa e ilustrações de Claudia Sales. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2011.
sete
O livro trata da História do Rei Galanga, conhecido como Chico Rei, um rei africano que teve seu reinado invadido pelos portugueses e fora trazido com sua família e outras pessoas de seu grupo para o Brasil na condição de escravos. Além de contar a história do rei Galanga, o livro traz como objetivos o interesse de desmistificar a idéia da África como um continente sem história anterior à invasão portuguesa e a oportunidade de apresentar, por meio da existência dos Orixás junto ao Candomblé e a Umbanda, alguns princípios da cosmovisão africana, sendo portanto estes o grande diferencial do livro e seu caráter inédito com relação as demais publicações sobre Chico Rei.
Público: infanto-juvenil (de 6 à 10 anos, ou alunos do Ensino Fund. I)
Número de páginas: 32

  1. Ifá, o Adivinho
  2. Texto de Reginaldo Prandi e ilustrações de Pedro Rafael. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.
oito
O livro nos apresenta um rico conjunto de personagens, costumes e modos de agir do universo cultural africano que se tornou parte constitutiva da diversidade cultural brasileira. Conta a história de um adivinho chamado Ifá que jogava seus búzios mágicos e desvendava o destino das pessoas que o consultavam. Ele as ajudava a resolver todo tipo de problema, mas o que mais gostava de fazer era auxiliá-las a se defender da Morte. Um dia, a Morte, irritada com a intromissão de Ifá em seus negócios, decidiu acabar com ele. Ifá foi salvo da Morte pela intervenção de uma corajosa donzela chamada Euá, e pôde continuar seu trabalho de ler a sorte, predizer o futuro e proteger as pessoas da Morte.
Público: infanto-juvenil (de 6 à 10 anos, ou alunos do Ensino Fund. I)
Número de páginas: 63

Minha mãe é negra sim

Texto de Patrícia Santana e ilustrações de Hyvanildo Leite. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2008
nove
O livro “Minha mãe é negra sim!”, da autora Patrícia Santana, conta a história do menino Eno, que se vê às voltas com o racismo na escola e sofre com o dilema de ter que retratar sua mãe negra, em uma atividade escolar. O garoto Eno é levado a se perguntar pela sua origem. Negro, ele percebe o preconceito da professora que sugere que Eno pinte o desenho da mãe, negra, de amarelo por ser uma cor mais bonita. Não pode haver tristeza maior para o seu coração. A mãe, que ele tanto amava e era tão linda! E a professora era professora, afinal tão difícil era contestá-la. Mesmo triste Eno procura saber no dicionário uma explicação para o preconceito. O dicionário não ajudou e ele seguia triste até que o avô tem uma conversa decisiva com ele. E mais do que conversa, aconchegou-o com todo amor.
Público: infantil
Número de páginas: 32

  1. Cada um com seu jeito, cada jeito é de um! 
  2. Texto de Lucimar Rosa Dias e ilustrações de Sandra Beatriz Lavandeira. Editora Alvorada, 2012.
luanda
O livro infantil conta a história de Luanda, uma menina negra muito sapeca e vaidosa, que adora o seu cabelo crespo onde envolve tod@s da família nos diversos penteados que inventa para desfilar sempre linda na escola. Foi seu pai quem escolheu esse nome para ela por acreditar que ela seria tão linda quanto à cidade africana que ele conheceu quando era jovem. A leitura promove o reconhecimento e a valorização das diferenças e das características pessoais que fazem de cada indivíduo um ser único e que deve se amar do jeitinho que é.
Público: infantil
Número de páginas: 52

  1. África: um breve passeio pelas riquezas e grandezas africanas.
  2.  Texto de Fernando Paixão e ilustrações de Kazane. Fortaleza: Editora IMEPH, 2012.
onze
O texto em formato de cordel nos mostra a imensa riqueza e extraordinária beleza do continente africano, permitindo desmistificar a ideia de uma África homogênea e devastada pela miséria.
Público: infanto-juvenil (de 6 à 12 anos, ou alunos do Ensino Fund. I)
Número de páginas: 28
  1. Omo-Oba-Histórias de Princesas 
  2. Texto de Kiusam de Oliveira e ilustrações de Josias Marinho. Mazza Edições, 2009.
doze
O livro reconta mitos africanos, divulgados nas comunidades de tradição ketu, pouco conhecidos pelo público em geral e que reforçam os diferentes modos de ser em relação ao feminino, nos permitindo trabalhar o emponderamento das meninas dos novos tempos. Dividido em seis mitos, relata as histórias de Oiá, Oxum, Iemanjá, Olocum, Ajê Xalugá e Oduduá.
Público: infantil
Número de páginas: 48
Boa leitura

créditos http://revistablacklifebrasil.blogspot.com.br














3 de jul. de 2015

28 de jun. de 2015

Exigências escolares e socialização



Responsabilidade. Essa qualidade-chave, tão necessária à vida acadêmica e cultural, tem sido uma das causas de conflitos entre educadores, alunos e pais. Afinal, é injusto punir com perda de nota o aluno que não entregou um trabalho escolar na data estipulada? É dever da escola ministrar provas em horários ou dias alternativos devido ao não cumprimento de deveres do aluno, como leitura de livros, estudo e anotações referentes à matéria? Essas questões, que em outros períodos históricos teriam como resposta um contundente não, têm sido cada vez mais trazidas à discussão na escola por causa de questionamentos familiares. Como lidar com o assunto? É impossível fornecer uma resposta satisfatória sem pensarmos no conceito de socialização.

Segundo Berger e Luckmann (1976, p. 175 apud GOMES, 1992, p. 94), a socialização é definida como a “ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela”. Podemos, portanto, concluir que a socialização é a construção, no indivíduo, de ferramentas e características necessárias à sua sobrevivência em sociedade e a uma vivência construtiva, colaborativa e contributiva para o meio que o cerca. É torná-lo apto a atender às exigências impostas pelo meio, sejam elas de ordem moral, profissional, pessoal, possibilitando sua inserção na sociedade.

Existem dois tipos de socialização: a primária, vivenciada na infância, e de responsabilidade especial da família, na qual a criança aprenderá atitudes básicas, como linguagem, locomoção, autonomia alimentar, controle dos esfíncteres, entre outras; e a secundária, que pode ser compreendida como “qualquer processo subsequente que introduz o indivíduo já socializado em novos setores do mundo objetivo de sua sociedade” (BERGER; LUCKMANN 1976, p. 175 apud GOMES, 1992, p. 94). A socialização secundária acontece ao longo da vida, diversas vezes, em vários momentos, e seus principais agentes são a escola e demais instituições relacionadas ao trabalho. Ou seja, ao longo de sua vida, o indivíduo necessitará socializar-se diversas vezes: terá de adaptar-se ao meio, e isso inclui o cumprimento de regras e exigências escolares; das demandas e responsabilidades próprias do trabalho; das condutas de um grupo religioso, caso escolha participar de algum; etc.

Ao contrário do que se pensa, essas aprendizagens não ocorrem de forma espontânea e livre. O processo de socialização leva a criança a se deparar com os valores sociais já existentes e expectativas já definidas, aos quais deverá adaptar-se. Entretanto, a criança resiste à socialização, pois sente que seus desejos imediatos são relegados, em detrimento de comportamentos esperados pela sociedade. Essa relação entre a criança e as demandas sociais precisa da mediação de um adulto (pais, professores, etc.).

A reflexão acima nos permite retornar ao tema principal com embasamento sociológico. É papel da escola flexibilizar suas exigências devido ao não cumprimento de tarefas atribuídas ao aluno? Percebemos que cabe à instituição educacional, como agente socializador, ensinar que é papel do aluno adaptar-se às regras. A conivência com a irresponsabilidade seria uma maneira de retardar ou mesmo dificultar o processo de socialização, deixando de preparar a criança para a vida em sociedade.
Ao permitir que, por pressão familiar, o aluno deixe de cumprir requisitos ou prazos sem uma justificativa realmente plausível, a escola está ensinando ao aluno que:

1. Não é necessário cumprir suas responsabilidades. Se essa premissa já é particularmente prejudicial à formação do caráter, em casos de escolas particulares a situação torna-se ainda mais grave, pois a criança aprende, ainda de maneira velada, que o dinheiro a isenta de cumprir suas obrigações. “Meu pai paga a escola, então eles têm que fazer o que ele pede”.

2. O mundo deve se adaptar a ele, e não ele à sociedade. Essa atitude retarda a maturação emocional da criança e abre as portas à formação de um indivíduo egocêntrico, que pensa que os outros é que devem atender às suas expectativas.

3. Não é necessário abdicar de desejos por responsabilidade. A vida é cheia de obrigações e, para cumpri-las, precisamos muitas vezes abdicar de nossos desejos imediatos. É muito bom permanecer na cama em uma manhã de inverno, mas precisamos abdicar desse desejo para realizar nossas atividades profissionais. Essa noção começa quando a criança precisa desligar o videogame ou a TV para fazer suas tarefas. Esse é um processo necessário, que não deve ser negligenciado.

4. Não há consequências para a irresponsabilidade. Na vida real há uma série de consequências para atitudes irresponsáveis: demissão por não cumprir as tarefas propostas ou não atingir metas, multas e sanções para os que dirigem sem considerar as leis de trânsito, contágio por doenças ou gravidez indesejada por conduta sexualmente descuidada. Privar a criança das sanções cabíveis por sua irresponsabilidade é impedir que ela desenvolva a capacidade de relacionar causa e efeito e, portanto, a maturidade necessária à vida adulta em um contexto social.

Os resultados dessas “aprendizagens” são, obviamente, perniciosos à formação do caráter do indivíduo, à sua posterior vida profissional, bem como à sua atuação em sociedade. Percebe-se, portanto, que a escola, como agente socializador, precisa manter seus padrões, promovendo, em situações de conflito, o esclarecimento das famílias sobre esse importante fator.

Referência bibliográfica

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1976.
GOMES, Jerusa Vieira. Família e socialização. Psicologia USP, São Paulo, v. 3, n. 1-2, p. 93-105, 1992. ISSN 1678-5177. Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/psicousp/v3n1-2/a10v3n12.pdf >. Acesso em: 26 maio 2011.