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Esta iniciativa consite em ações que possibilitem momentos de reflexão e construção pedagogica, abrangendo ainda propostas significativas para a prática cotidiana do educadores. De acordo com o contexto escolar e vivências as ideias e sugestões podem ser adequadas as necessidades reais nas expectativas de educadores e educandos

13 de jun. de 2013

Tarsila do Amaral

















Estudar o uso da cor e da deformação na arte de Tarsila é uma forma de iniciar a discussão do conceito de Antropofagia, importante por seu papel na obra de Tarsila.


Objetivos
Para permitir ao aluno:

transformar dúvidas e associações em estímulos para o processo de conhecer arte;
começar a conhecer Tarsila, a Antropofagia;
perceber como Tarsila cria uma linguagem própria com o uso da cor, da deformação e da criação de formas e figuras com significado simbólico pessoal;
apropriar-se em sua atividade de criação dos conceitos de deformação e das possibilidades expressivas do uso da cor.
Procedimentos
Peça aos alunos para anotar as perguntas e associações que surgirem no contato com a obra de Tarsila e com as informações apresentadas neste percurso. Cada questão abre caminhos, pistas para investigar e decifrar os significados presentes na obra.

Estas são algumas das interrogações que orientaram a organização deste percurso educativo para conhecer arte:

O que esta figura representa para mim? E para as outras pessoas? E para Tarsila?
Tarsila deu a este quadro o nome de "Abaporu". O que isso quer dizer? Por que esse nome?
Por que Tarsila do Amaral criou este quadro? O que motiva alguém a ser artista?
Por que a tela foi pintada desse modo, com esse tipo de linhas, de formas, de cores ...?
Quais as inquietações dos artistas na época em que o quadro foi feito, no Brasil e no mundo?
Qual a relação deste quadro com a Antropofagia?

Conversar sobre o Abaporu


*Convidar os alunos a parar durante algum tempo frente ao "Abaporu" (ou sua reprodução) e a olhar, sentir, questionar esta obra de arte.
*Apresentar a experiência de leitura e busca de significados como um desafio: por que é assim? O que quer dizer? Como esses significados são representados formalmente na obra? O que cada um do grupo percebe e entende?
*O principal papel do professor nessa discussão é o de mediar a conversa entre seus alunos, estimulá-los a perceber e expressar as primeiras reações e associações, compartilhando essas vivências com o grupo.
*Cada forma de olhar tem sua validade e traz sua contribuição para o grupo; não é uma questão de acerto ou erro. Ao falar com o grupo sobre a experiência que vive com esta obra de arte, cada aluno compartilha significados e cria possibilidades para ampliar sua visão de mundo e a de seus colegas.
Procure orientar a discussão propondo outras questões e incluindo novos conteúdos que auxiliem a aprofundar e decodificar as primeiras impressões, envolvendo os estudantes no percurso educativo sugerido sem excluir suas motivações pessoais, expressas em seus questionamentos (evite colocar na roda um excesso de informações sobre o artista e a obra, que podem inibir a participação dos alunos).

"Abaporu"

Tarsila descreve o Abaporu como "uma figura solitária monstruosa, pés imensos, sentada numa planície verde, o braço dobrado repousando num joelho, a mão sustentando o peso-pena da cabecinha minúscula. Em frente, um cacto explodindo numa flor absurda". A partir de comentários de uma amiga, que dizia que suas pinturas "antropofágicas" (1928/1930) lembravam-lhe seus pesadelos, Tarsila identifica a origem de sua pintura desta fase: "S então compreendi que eu mesma havia realizado imagens subconscientes, sugeridas por histórias que ouvira em criança", contadas na hora de dormir pelas velhas negras da fazenda. "Segui apenas uma inspiração sem nunca prever os seus resultados. Aquela figura monstruosa, de pés enormes, plantados no chão brasileiro ao lado de um cacto, sugeriu a Oswald de Andrade a idéia da terra, do homem nativo, selvagem, antropófago..." (citações da obra de Aracy Amaral).


Movimento antropofágico


Ao receber, em 11 de janeiro de 1928, este quadro de Tarsila como presente de aniversario, Oswald de Andrade comentou, impressionado: "Ï o homem, plantado na terra". Conversando com ela e com o colega Raul Bopp, propuseram-se a fazer um movimento em torno deste quadro, dando origem ao movimento antropofágico. Seu título foi composto consultando um dicionário da língua dos índios tupi-guarani. Abaporu vem de aba (homem) e poru (comer) e significa o mesmo que Antropofagia, que vem do grego antropos (homem) e fagia (comer) . Segundo Paulo Herkenhoff, curador-geral da XXIV Bienal "A Antropofagia ë o momento histórico de grande densidade no modernismo brasileiro (...), um momento de busca por emancipação e atualização destes artistas". Emancipação da tradição acadêmica, da importação atrasada de modismos europeus. Atualização em relação questões relevantes no local e momento em que vivem e discussões contemporâneas de artistas de todo o mundo sobre os rumos da arte moderna.

Tupi-guarani: Os tupis foram o grupo indígena brasileiro que teve maior contato com os colonizadores. Sua língua foi a mais falada no país nos primeiros séculos após o descobrimento. Milhares de palavras em tupi ainda são utilizadas na língua portuguesa falada no Brasil.

Investigar o uso da cor e da deformação na arte e no cotidiano


Partindo das colocações de Tarsila sobre o uso das cores adequado ao Brasil e da relação entre a realidade e a arte como forma de representação, pesquisar e discutir outros usos da cor e da deformação no cotidiano, como:

comparar as formas como as diferentes "tribos urbanas" criam sua identidade por meio do uso da cor (nas roupas, na maquiagem, nas lentes para os olhos...) e de alterações do corpo (musculação, cirurgia plástica, tatuagem, anéis no nariz...);
comparar o "realismo" reconhecido nas fotografias (como as feitas pelas famílias dos alunos) e a "deformação" na construção dos personagens de história em quadrinhos (por exemplo, a cabeça grande e as mãos com quatro dedos de vários personagens da Turma da Mônica);
comparar a diferença do uso da cor aplicada nos desenhos de histórias em quadrinhos e nos desenhos animados (é comum o uso de cores fortes, chapadas, sem variação de luminosidade) com seu uso "realista" nas fotos publicadas em revistas e nos filmes;
comparar o uso da cor para criar climas emocionais diferentes em produções de diversos gêneros (por exemplo, um filme de terror e um filme romântico).
Na discussão dos resultados dessas pesquisas, ao comparar o uso da cor e da deformação por artistas pertencentes a grupos culturais diversos, podemos avaliar como os alunos compreendem os diferentes modos como os indivíduos e as culturas enxergam o mundo e as interações entre o regional e o universal, e se relacionam suas descobertas a suas vidas. Essa avaliação pode ser feita por meio da participação na discussão ou por um texto que registre as impressões de cada aluno.

Cor, forma e expressão

Essa investigação possibilita a introdução de conceitos sobre formas de representação da realidade por meio da discussão das relações entre a arte e a deformação - explicitando critérios culturais de "certo" e "errado" que os próprios alunos incorporam em relação aos seus desenhos - e de informações sobre conceitos relacionados ao uso da cor - matiz, tonalidade, saturação, claridade, cores primárias, secundárias, complementares, possibilidades de combinação etc. Essas informações podem ser introduzidas pelo professor na forma de aulas expositivas e/ou por meio da orientação da pesquisa dos alunos e/ou por meio da discussão de experiências práticas dos alunos em atividades sobre esses temas.
Propor aos alunos exercícios, individuais ou em grupos, que permitam criar diferentes versões de uma mesma obra:
pela alteração/deformação da proporção de partes das figuras escolhidas, procurando atribuir um significado pessoal ao resultado dessas modificações;
pela alteração das cores, estudando as diversas maneiras de utilizar os tons.
Para essas experiências, reproduzir um desenho, que pode ser o "Abaporu" ou algo criado pelos alunos. As cópias podem ser feitas por meio de xerox, usando uma mesa de luz ou um retroprojetor, quadriculando o desenho a ser reproduzido ou decalcando-o com papel carbono ou de seda. Ao copiar ou decalcar, os alunos podem introduzir voluntariamente alterações nos desenhos, modificando a posição em que colocam um papel sobre o outro, alongando ou encurtando determinadas partes.
As mesmas cópias, com ou sem "deformações", podem ser usadas nas experiências com a cor. Para que os alunos percebam o caráter material da cor em pintura, o ideal é utilizar diversos tipos de técnicas e materiais de desenho, como a colagem, lápis de cera, anilina, ou pigmentos (como as diversas cores de "pó xadrez") misturados com cola branca.
Glossário
Deformação: alteração da forma em relação a um padrão de percepção ou a uma norma de representação.

Acadêmico: a partir do século XVI, as academias se institucionalizaram na Europa como referências para o ensino e a prática de arte. No Brasil, a primeira foi a Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, criada em 1820 seguindo os princípios neoclássicos da Missão Artística Francesa (1816).Avaliação
Expor e discutir o resultado dessas experiências de criação com a classe oferece condições de avaliar a compreensão dos conceitos trabalhados e o quanto estão preparados para falar de arte como algo presente.

Semana de arte moderna
De 13 a 17 de fevereiro de 1922, aconteceu em São Paulo a Semana de Arte Moderna. Realizada no Teatro Municipal, a série de três festivais organizados por Oswald e Mário de Andrade foi um marco na história da arte brasileira. Influenciados pela vanguarda artística européia, escritores, músicos e artistas plásticos mostraram à então tradicional sociedade paulistana o que acreditavam ser a nova identidade artística do país. Foram vaiados e bastante criticados. Mesmo assim, a Semana de 22 representou o início do modernismo, o adeus ao academicismo e, até hoje, inspira a criação artística nacional.

TARSILA DO AMARAL

Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886 na Fazenda São Bernardo, município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. Seu pai herdou apreciável fortuna e diversas fazendas nas quais Tarsila passou a infância e adolescência. Em 1922 tem uma tela sua admitida no Salão Oficial dos Artistas Franceses. Nesse mesmo ano regressa ao Brasil e se integra com os intelectuais do grupo modernista. Faz parte do “grupo dos cinco” juntamente com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia. Nessa época começa seu namoro com o escritor Oswald de Andrade. Embora não tenha sido participante da “Semana de 22” integra-se ao Modernismo que surgia no Brasil, visto que na Europa estava fazendo estudos acadêmicos. Casa-se com Oswald de Andrade. Em 1928 pinta o “Abaporu” para dar de presente de aniversário a Oswald que se empolga com a tela e cria o Movimento Antropofágico. É deste período a fase antropofágica da sua pintura. Em 1929 expõe individualmente pela primeira vez no Brasil. Separa-se de Oswald em 1930.
Em 1933 pinta o quadro “Operários” e dá início à pintura social no Brasil. Faleceu em São Paulo no dia 17 de janeiro de 1973.

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