A
ABORDAGEM DE HENRI WALLON
A
gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente
social, ou seja, "o ser humano é organicamente social e sua
estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se
atualizar" (Dantas, 1992). Nesse sentido, a teoria do
desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da
pessoa completa. Henri Wallon reconstruiu o seu modelo de análise ao
pensar no desenvolvimento humano, estudando-o a partir do
desenvolvimento psíquico da criança. Assim, o desenvolvimento da
criança aparece descontínuo, marcado por contradições e
conflitos, resultado da maturação e das condições ambientais,
provocando alterações qualitativas no seu comportamento em geral.
Wallon realiza um estudo que é centrado na criança contextualizada,
onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do desenvolvimento é
descontínuo, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas,
provocando em cada etapa profundas mudanças nas anteriores.
Nesse
sentido, a passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá
linearmente, por ampliação, mas por reformulação, instalando-se
no momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a
conduta da criança. Conflitos se instalam nesse processo e são de
origem exógena quando resultantes dos desencontros entre as ações
da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e pela
cultura e endógenos e quando gerados pelos efeitos da maturação
nervosa (Galvão, 1995). Esses conflitos são propulsores do
desenvolvimento.
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:
- Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de vida. A predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, às quais intermedeiam sua relação com o mundo físico;
- Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos. A aquisição da marcha e da prensão, dão à criança maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato da ação do pensamento precisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental "projeta-se" em atos motores. Como diz Dantas (1992), para Wallon, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor;
- Personalismo, ocorre dos três aos seis anos. Nesse estágio desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as interações sociais, reorientando o interesse das crianças pelas pessoas;
- Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior;
- Predominância funcional. Ocorre nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.
Na
sucessão de estágios há uma alternância entre as formas de
atividades e de interesses da criança, denominada de "alternância
funcional", onde cada fase predominante (de dominância,
afetividade, cognição), incorpora as conquistas realizadas pela
outra fase, construindo-se reciprocamente, num permanente processo de
integração e diferenciação.
Wallon,
deixou-nos uma nova concepção da motricidade, da emotividade, da
inteligência humana e, sobretudo, uma maneira original de pensar a
Psicologia infantil e reformular os seus problemas.
Psicogênese da Pessoa Completa
Wallon
procura explicar os fundamentos da psicologia como ciência, seus
aspectos epistemológicos, objetivos e metodológicos.
Admite o organismo como condição primeira do pensamento, pois toda a função psíquica supõe um componente orgânico. No entanto, considera que não é condição suficiente, pois o objeto de ação mental vem do ambiente no qual o sujeito está inserido, ou seja, de fora. Considera que o homem é determinado fisiológica e socialmente, sujeito às disposições internas e às situações exteriores.Psicologia Genética
A
psicologia genética estuda os processos psíquicos em sua origem,
parte da análise dos processos primeiros e mais simples, pelos
quais cronologicamente passa o sujeito. Para Wallon essa é
a única forma de não dissolver em elementos separados e
abstratos a totalidade da vida psíquica.
Wallon
propõe a psicogênese da pessoa completa, ou seja, o estudo
integrado do desenvolvimento.
Considera que não é possível selecionar um único aspecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil (afetivo, motor e cognitivo). Para ele o estudo do desenvolvimento humano deve considerar o sujeito como “geneticamente social” e estudar a criança contextualizada, nas relações com o meio. Wallon recorreu a outros campos de conhecimento para aprofundar a explicação do fatores de desenvolvimento (neurologia, psicopatologia, antropologia, psicologia animal). Para ele a atividade do homem é inconcebível sem o meio social; porém as sociedades não poderiam existir sem indivíduos que possuam aptidões como a da linguagem que pressupõe uma conformação determinada do cérebro, haja vista que certas perturbações de sua integridade, privam o indivíduo da palavra. Vemos então que para ele não é possível dissociar o biológico do social no homem. Esta é uma das características básicas da sua Teoria do Desenvolvimento. De acordo com Dantas (1992) Wallon concebe o homem como sendo genética e organicamente social e a sua existência se realiza entre as exigências da sociedade e as do organismo.
Manteve
interlocução com as teorias de Piaget e Freud. Destacava
na teoria de Piaget
as contradições e dessemelhanças entre as suas teorias, pois
considerava esse o melhor procedimento quando se busca o
conhecimento. Por parte de Piaget existia uma constante disposição
em buscar a continuidade e complementariedade de suas obras. Os
dois se propunham a análise genética dos processos psíquicos,
no entanto, Wallon
pretendia a gênese da pessoa e Piaget a gênese da
inteligência.Com
a psicanálise de Freud
mantém uma atitude de interesse e ao mesmo tempo de reserva.
Embora
com formação similar (neurologia e medicina) a prática de
atuação os levou a caminhos distintos. Freud
abandonando a neurologia para dedicar-se a terapia das neuroses e
Wallon mantém-se ligado a esta devido ao seu trabalho com
crianças com distúrbios de comportamento.O
método adotado por Wallon é o da observação pura.
Considera que esta metodologia permite conhecer a criança em seu
contexto, “só podemos entender as atitudes da criança se
entendermos a trama do ambiente no qual está inserida”.
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